domingo, 21 de agosto de 2016

Direito Achado na Ilha - Cajueiro de Paço do Lumiar

              Em junho desse ano, o projeto Direito Achado na Ilha, amparado pela FAPEMA, possibilitou o contato do PAJUP com outra comunidade protagonista da luta pela terra: a comunidade Cajueiro, localizada em Paço do Lumiar.

Membros da comunidade e integrantes do Programada de Assessoria Jurídica Universitária Popular - PAJUP

                   O Cajueiro é uma comunidade criada por mulheres, sendo estas mães solteiras. Somente após alguns anos de existência da mesma é que homens passaram a frequentar o local, sendo estes, contudo, filhos ou maridos/namorados das moradoras.
                   Segundo Dona Anunciação, líder da comunidade, ao chegarem ao terreno, as mulheres, além de se depararem com uma terra completamente abandonada, de mata alta, encontraram vestígios da história sombria do local, antigo palco para atrocidades como estupros e mortes. Um caso exemplar desses indícios, inclusive, fora a descoberta de um poço com dezenas de crânios humanos dentro, fato este que resultou na desativação do mesmo pelos próprios moradores.

Da esquerda para a direita: Layse Campos, Jordana Dall Agnol, Dona Anunciação, Ricardo Pestana, Anne Aires, Letícia Vieira e Beatriz Alves.
                   O nome “Cajueiro” é emblemático, conforme os membros da comunidade, pelo próprio significado memorial do lugar. Consoante os mesmos, anterior à comunidade e ao passado violento, o local era uma grande fazenda de caju, fato que explica, com isso, o nome. Hoje, pela fertilidade do terreno, as famílias já investem na plantação de outras frutas, sendo bastante presente nas casas os limoeiros, coqueiros, aceroleiras, pimenteiras, mangueiras etc.







                   Em dezembro de 2015, o Cajueiro se tornou a primeira comunidade de Paço do Lumiar regularizada. Embora tenham vivenciado esse feito, as famílias ainda passam por diversos percalços, já que há 3 anos as empresas TDG e Eletronorte “assombram” o local e, mesmo após a concretização dos títulos, a atuação das mesmas não cessou.

“Você sabe que com a Justiça Federal não se brinca, né?” (Dona Anunciação relembrando a frase que alguns funcionários da Eletronorte disseram à comunidade quando visitaram o local).

                   As empresas já citadas buscam o terreno do Cajueiro, que dizem ser destinado a sessão de uso, para construir suas torres de energia. A primeira etapa do projeto, inclusive, já fora executada, onde 16 famílias foram retiradas de seus lotes, desconfigurando totalmente a comunidade, sendo os moradores retirados “indenizados” com os valores de R$ 1500,00 a R$ 7000,00 (valores estes incapazes de custear outra moradia até mesmo nas áreas mais afastadas do município de Paço e da Ilha do Maranhão).

“A minha dor é a mesma deles” (Dona Anunciação sobre a retirada de algumas famílias da comunidade).

                   Há casas que, na primeira fase, possuíram fios de energia perpassando muito próximo aos seus telhados, sem, contudo, entrarem na contabilidade da indenização. Segundo os moradores, os funcionários das empresas informaram que as famílias nestas situações não seriam prejudicadas, visto a carga de radiação da linha energética ser baixa; meses após a instalação das primeiras torres, contudo, um dos moradores que permaneceu em um dos lotes afetados foi diagnosticado com tumores malignos no rosto.









Os fios das torres de energia [em contraste com o céu] ficam a poucos metros do chão

A fiação também adentra casas e lotes da comunidade



Em algumas casas, os fios passam a centímetros do telhado

                   A segunda fase já vem sendo anunciada a algum tempo e, mesmo ainda não acontecendo, já rendeu diversos problemas e prejuízos à comunidade. Segundo os moradores, é comum a presença de funcionários das empresas no local promovendo discursos que incitem medo ou mesmo impedindo a melhoria das moradias por parte das famílias, visto que, conforme os advogados, só serão indenizados os investimentos [nas construções] presentes nas fotos tiradas por seus peritos técnicos. Um exemplo fatídico do dano causado foi o recente desabamento da Associação de Moradores, onde, pela reforma estrutural não concluída devido as ameaças, a mesma não resistiu às fortes chuvas.

“Eles não querem saber quanto tempo de trabalho custou” (Dona Anunciação sobre as propostas inconvenientes das empresas que ignoram a história e necessidade dos moradores do Cajueiro).

Destroços da Associação de Moradores do Cajueiro



Casas com reformas paralisadas e estruturas incompletas
Algumas casas, assim como a Associação de Moradores, foram fotografadas pelos peritos ainda quando de taipa

“Querem pegar as pessoas e jogar na BR” (Dona Anunciação sobre as propostas feitas pela Eletronorte para com a comunidade).

                   Os moradores continuam resistindo às propostas, visto que os valores indenizatórios não mudarão da primeira para a segunda etapa: a média estará entre R$ 1500,00 a R$ 2000,00. Ademais, para os que não serão afetados diretamente, isto é, não terão torres perpassando seus lotes, as frações são ainda mais baixas: R$ 100,00 a R$ 200,00. Cabe frisar, ainda, que não há nenhum documento apresentado pelas empresas que comprove a legalidade da obra e muito menos que trate do impacto das torres e linhas de transmissão mediante a área da comunidade.

“Que a melhoria seja para todos” (Irmão Paulo sobre a proposta da Eletrobras que diz trazer o desenvolvimento para todos, mas, que, na prática, beneficia tão somente municípios como São Luís).

                   Mesmo após 10 anos de história e muita luta, completados em 11 de maio deste ano, o Cajueiro ainda nos prova que estão mais vivos do que nunca!






"Num universo de horrores,
tuberculose, câncer, tumores,
chagas que a prata não repara,
vidas cujo o respeito não viram nada".
(Criolo)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Direito Achado na Ilha - Eugênio Pereira



O Projeto Direito Achado na Ilha, teve seu inicio em 2015. Seus objetivos envolvem uma atuação conjunta com Comunidades da cidade de Paço do Lumiar - Maranhão, que passam por conflitos fundiários urbanos. O PAJUP irá lançar uma série de postagens nesse blog, para mostrar pouco a pouco as comunidades, suas lutas e as pessoas que constroem o movimento de luta por terra e moradia de qualidade.  Dentre essascomunidades, encontra-se a Eugênio Pereira, a qual o PAJUP atua desde o início do ano de 2014.



A situação da Comunidade hoje, é teoricamente estável, se comparada aos percalços que a mesma enfrenta desde o inicio da ocupação (2005). A área ocupada hoje que é de 50 hectares, com mais de 500 mil metros quadrados, pertence a um espólio. A comunidade luta também judicialmente pela posse da área.


Durante o inicio da ocupação, eram contabilizadas mais de 700 famílias, hoje esse número é impreciso, pelo menos enquanto durar o período do cadastro das famílias (que servirá como meio de prova para um dos processos em que a Comunidade litiga enquanto parte interessada).


Há pouco tempo, a comunidade que se preparava para dar inicio ao processo de regularização fundiária, teve seu desejo novamente distanciado, uma vez que um dos herdeiros da área que é objeto do litigio, resolveu não abrir mão de sua propriedade.


A noticia foi uma surpresa aos moradores, pois os mesmos já haviam começado o processo de cadastro dos moradores, para comprovar à juíza de Paço do Lumiar o real tamanho e quantidade de moradores da comunidade.



O PAJUP acompanhou a luta e diversas vitórias da Comunidade, dentre elas a conquista de uma linha de ônibus e também o crescimento da Escola Comunitária, que desde o início é o grande orgulho da comunidade por ser resultado de uma construção e esforço coletivo.



Não são poucas as vitórias da Eugênio Pereira, que desde meados do ano de 2006, luta através dos meios judiciais e políticos pela regularização fundiária de toda a área ocupada.









quinta-feira, 16 de junho de 2016

Oficina na Comunidade Cajueiro: Essa terra é nossa.

Oficina na Comunidade Cajueiro: Essa terra é nossa.

A empresa WPR, subsidiária da Wtorre tenta a todo custo a expulsão da Comunidade do Cajueiro, para a construção de um porto em nome do “Progresso”. Mas progresso para quem?
A Comunidade do Cajueiro existe há mais de 50 anos, e se encontra na zona rural II de São Luis, na área de amortecimento da Reserva extrativista do Tauá-Mirim. No mesmo território situa-se o mais antigo lugar de culto Afro na ilha de São luís, o Terreiro do Egito, que deu origem a outros terreiros que não só se espalharam por São Luís, mas pelo mundo.
A comunidade do Cajueiro vive de forma sustentável e harmônica com a natureza. As atividades principais são de pesca e agricultura familiar.
A oficina contou com a presença do Coletivo Nódoa, Najup Negro Cosme (Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular), moradores do Cajueiro, estudantes de agronomia da UEMA e o PAJUP.
O debate foi em torno do reconhecimento e autodeterminação como uma comunidade e um povo de identidade tradicional, além da importância dos laços que foram criados não só com vizinhos e familiares, mas com a sua terra. Outro aspecto abordado foi oda proteção e da consciência ambiental em face do “desenvolvimentismo”.

A construção do Porto, é uma grande ameaça a essa e muitas histórias e vínculos existentes na comunidade. O Cajueiro (Re)existe.